Publicado em: 01/08/1995
JORNAL DO BRASIL
Caderno de Informática
Pg. 03



O evento da computação gráfica

Siggraph contará com 15 pesquisadores brasileiros



Um grupo de pesquisadores do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) se prepara para marcar a presença brasileira no Siggraph, encontro dos maiores especialistas da computação gráfica do mundo. Realizado há 21 anos pela tradicional Association for Computer Machine, o evento ganhou fama pelo alto nível e ineditismo dos trabalhos apresentados, um elenco que, este ano, inclui duas pesquisas made in Brasil.

Nesta 22ª edição, o super encontro acontece entre 6 e 8 de agosto, no Los Angeles Convention Center, em Los Angeles, e obedece a uma consagrada estrutura de sucesso que mistura sessões técnicas, mesas-redondas e cursos, reunindo, em média, cinco mil cientistas. O ponto-alto são as apresentações que demonstram o estado da arte da tecnologia.

O Visgraf, do Impa , vai levar 15 pesquisadores e novas descobertas sobre duas tecnologias de ponta, a de multiresolução (para pintura em computador) e a de retícula estocástica (para impressão digital). O primeiro trabalho, desevolvido em conjunto com Ken Perlin _ o pai do conceito de textura sólida, hoje um padrão nos softwares 3D _ levanta um método matemático para explorar melhor a solução, mantendo a fidelidade à textura do objeto, qualquer que seja a ampliação.

Alta resolução _ Já a segunda teoria, levantada pelo coordenador do grupo do Impa , professor Jonas Gomes, propõe uma solução para dar melhor resolução às retículas, extraindo o máximo dos equipamentos para impressão digital. Parte do trabalho foi realizado nos laboratórios da HP.

Luiz Velho , que apresenta ambos trabalhos, considera a inclusão dos dois trabalhos no seleto grupo de 30 escolhidos na maior prova do avanço brasileiro na área.

Há quatro anos o país marcou presença pela primeira vez, também com uma pesquisa de Velho . ´´Além dos Estados Unidos, Canadá, França e Japão se firmaram como grandes desenvolvedores de tecnologia para a área. Inglaterra e Alemanha se apresentam mais raramente. Com a participação deste ano, o Brasil passa a se caracterizar como um país que produz coisas importantes para a computação gráfica``, enfatiza o pesquisador.

Além dos trabalhos, a equipe vai ministrar um curso sobre deformação e metamorfose de objetos, uma reunião das principais técnicas disponíveis hoje. A apresentação vai contar com a participação de dois especialistas americanos, Jorge Wolber, autor do primeiro livro sobre metamorfose, e o coordenador técnico da Industrial Light Magic, a fábrica de efeitos computacionais da Lucas Filmes, João Berton.

Mas esse não é o único palco onde as maiores feras se enfrentam. No campo inverso, o da produção, o Siggraph também dá show. A feira de produtos para a computação gráfica, protótipos de equipamentos que estarão no mercado em dois a três anos, reúne 35 mil visitantes, entre usuários, curiosos e concorrentes. Quem está a fim mesmo de experimentar novas sensações não deve perder o Eletronic Theatre, o mais concorrido da série de eventos paralelos à feira.

Durante duas horas, uma vez ao dia, quatro mil pessoas se aglomeram tanto para ver desde o melhor da computação no cinema e na publicidade, quanto para testar as maiores novidades da indústria do entretenimento. Ano passado, uma experiência interativa foi a sensação do evento: um videogame coletivo, controlado por milhares de pessoas simultaneamente, a partir de varetas equipadas com luz infra-vermelhas. Captadas por câmeras sensíveis à luminosidade, as reações da platéia se refletiam em movimentos numa tela de alta resolução.